As paradas que a vida dá

A vida para. Somos nós que muitas vezes não queremos ver ou que demoramos a entender. Que criamos histórias. Que forçamos a caminhada a seguir marchando no ritmo frenético de sempre. Que comparamos o nosso gramado com o gramado do outro, o qual sempre parece crescer mais rápido e mais bonito. Que aceleramos. Que insistimos naquele mesmo roteiro para a vida. Que dobramos as esquinas e reclamamos ao nos chocarmos de repente com algo que atrapalha o nosso caminho. Aquilo que surge sem que estejamos esperando. Aquilo que faz o corpo despertar por alguns minutos.
Somos nós que muitas vezes sufocamos a vida. Mas a vida está sempre nos convidando a parar. E assim ela fez comigo certo dia, enquanto eu fazia compras no supermercado e passava pelos corredores, nem apressada e nem presente, mas apenas seguindo com o meu caminho comum. Foi ali que em um dos corredores, havia uma funcionária repondo alguns produtos na prateleira, de pé, em cima de uma pequena escada. Ao passar por ela, um pouco distante da prateleira em que ela se encontrava, escutei o barulho de um dos produtos que ela repunha caindo no chão. Era uma caixa pequena, mas que ao cair fez um forte barulho. Naquele momento, a vida parou. O barulho da queda da caixa no chão bateu também forte dentro de mim. Como um convite a parar. Um convite a despertar. A colocar-se presente naquele momento da vida e participar dela, deixando de ser apenas uma simples figurante.
Se eu tivesse aceitado o convite, poderia parar o meu carrinho de compras, aproximar-me da moça, olhar para ela, abaixar-me até a caixinha para pegá-la, entregá-la de volta, trocar algumas palavras e abrir espaço para o que mais a vida naquele momento tivesse a me oferecer. Mas não foi o que eu fiz. Naquele dia, escolhi não viver aquele pequeno momento da vida. Não participei. Sequer estive lá. Apenas passei pela vida. Continuei seguindo pelo caminho, andando em linha reta e constante por aquele momento, sem abrir espaço para mudanças no roteiro padrão traçado para aquele dia. E a partir disso, eu então me pergunto: o que será que a vida tinha a me oferecer naquele pequeno momento? O que será que eu posso ter perdido naquela parada, escolhendo continuar seguindo normalmente com a vida?
De tantas opções possíveis, uma delas acredito que é certa: perdi a oportunidade de viver um momento de conexão e de despertar para um estado de maior presença. Abri mão de alguns dos presentes que a vida nos entrega a cada segundo. E desde então, sinto que o que mais perdemos em certas paradas não dadas durante a vida, é uma chance a nós mesmos. Aquele voto de confiança nas oportunidades e nas possibilidades de sermos surpreendidos com tudo aquilo que, freneticamente, tentamos encontrar em outro lugar. Talvez esse convite da vida aquele dia, tenha sido simplesmente isso: um relembrar que a vida é feita de pausas, de presença, de espaço aberto para respirarmos com tranquilidade e podermos olhar para nós mesmos e também para o outro e, que qualquer busca se torna irrelevante, quando aos pequenos sinais do dia a dia fechamos o coração para escutar e os olhos para enxergar.
A vida nos pede paradas. Até quando vamos recusar o seu convite?

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